Competição saudável dentro das empresas é possível

maio 23, 2017 11:00 am - Publicado por

Via Estadão

A necessidade de cumprir metas de produtividade é uma realidade em todas as organizações. Mas para que a prática não afete o clima organizacional, deve ser conduzida com habilidade. “O líder maior da empresa é quem deve estabelecer o tom da competitividade interna. Por ser um tema delicado, existe o risco de passar do ponto e virar conflito entre colegas. Costumo dizer que comandar a competitividade de maneira saudável é uma arte”, diz César Souza, da Empreenda Consultoria Empresarial.

Segundo ele, a recomendação é que as metas sejam claras e compartilhadas entre todos. “Por exemplo, se para a equipe da área comercial a meta é aumentar o número de clientes, a ação deve ser coerente com o aumento da produção, para isso, a equipe de suprimentos tem de comprar mais e melhor, e a área de marketing deve produzir campanha com esse objetivo. O ideal é que as metas tenham interdependência entre as áreas para que um funcionário some com o outro.”

Diretor de RH da rede de drogarias Onofre, Marco Antonio Gomes diz que a empresa barra a competição predatória por meio da governança corporativa e incentivo à conduta ética feita pela área de compliance. “Nossa orientação sobre o comportamento dos funcionários é clara quanto à questão do respeito com o outro. Ao serem contratados, todos ficam sabendo que um dos princípios básicos da companhia é o respeito e que a competição agressiva não é bem-vista dentro da cultura da empresa”, conta o executivo.

Gomes afirma que todos são orientados a ouvir, debater e dialogar muito. “Nossos gestores não estimulam a conquista de resultado a qualquer custo, eles fazem isso de outra forma, respeitando os espaços. Tanto, que não contratamos aquele tipo de pessoa com sangue nos olhos e faca nos dentes para conseguir resultados a qualquer custo”, ressalta.

Na McCain do Brasil, os valores da empresa também não fomentam a competição como forma de alcançar as metas. “A cultura da companhia estimula a obtenção de resultados de forma sólida e sustentável, sem que haja prejuízo aos colegas, gestores e equipes”, diz o gerente de RH, Maurício Tasca. O gestor conta que a empresa cultiva um ambiente de trabalho favorável e prazeroso, sem estímulo a qualquer tipo de canibalismo em detrimento de conquistas próprias.

“Todos começam o ano fiscal sabendo quais são suas metas e os objetivos a serem trabalhados. Na área de vendas, praticamos política de remuneração variável, mas de forma muito transparente. Mesmo assim, o clima de animosidade não ocorre em hipótese alguma, porque as metas são claras e todos sabem quais indicadores são usados”, afirma.

Diretora de marketing e qualidade da McCain, Renata Figueiredo conta que cada funcionário tem sua meta. “A empresa estimula cada um de nós a atingir e superar as próprias metas. Então, é muito mais uma questão individual do que uma competição com os colegas. Acho essa estratégia bacana, porque faz com que cada um busque a sua própria superação.”

Renata diz que trabalhou em outra companhia que adotava linha de pensamento semelhante. “Mas conheço histórias de mercado sobre empresas que estimulam a competição agressiva. Isso depende da cultura organizacional.”

Desestímulo.

Segundo Gomes, empresas que tiram proveito da competição entre colegas caminham sobre uma linha muito tênue entre serem agressivas ao extremo e o risco de desestimular as pessoas por se sentirem ameaçadas. “Considero que adotar o estilo de competitividade que produz sensação de ameaça representa perigo para organização, pois pode acarretar a perda de talentos”, afirma.

Gomes acrescenta que no processo seletivo da Onofre os recrutadores avaliam a maturidade do candidato perante momentos de dificuldades e conflitos. “Procuramos tirar o máximo do nosso staff. São pessoas que conseguem fazer mais dentro de seu universo. Reconhecemos esse tipo de pessoa quando ela sofre uma adversidade e consegue mudar a situação usando sua inteligência. Estimulamos e aplaudimos quem compete consigo mesmo.”

Souza salienta que, nesse processo, o papel do líder é fazer com que os funcionários melhores possam ajudar os outros a crescer também, gerando um clima harmônico para que suba a barra de resultado para todos. “Essa postura exige elevado nível de maturidade e inteligência emocional entre as pessoas.”

Segundo César Souza, manter a competitividade saudável entre os membros da equipe não é uma questão técnica, mas de habilidade. “Na área de vendas, por exemplo, as metas devem ser estabelecidas dividindo o território entre os membros da equipe. Não pode haver uma zona cinzenta, com pessoas lutando pela meta dentro do mesmo território”, afirma. Souza recomenda que a competição saudável sempre distribua prêmios para diferentes categorias, contemplando vários profissionais.

Ele afirma que o ideal é que os prêmios sejam intangíveis. “Prêmio em dinheiro tende a aguçar a competição que passa do ponto. As pessoas gostam muito de receber reconhecimento, como matéria no jornal interno, ou ser chamada ao palco na convenção anual da empresa.”

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